As creepypastas, histórias de internet que ficam circulando na base do “copia e cola”, foram criadas em uma era distante da internet, onde existia pouco conteúdo de entretenimento, e o pouco que existia estava espalhado pela rede de forma que se tornava difícil de encontrar tal conteúdo e mais difícil ainda de encontrar algo de realmente relevante. Nesse tempo (onde o Brasil quase não teve representatividade online) surgiu um tipo de rede social conhecida como “chan”, uma espécie de Reddit primitivo, onde você poderia fazer uma postagem e outras pessoas responderiam (se te encontrassem no Yahoo ou em outro buscador primitivo). Em alguns desses chans, como no 4chan, alguns usuários começaram a achar legal a ideia de se mandar uma ou mais imagens com uma história assustadora (muitas vezes mal-escrita) como contexto, e foi assim que esse gênero teve origem.
Creepypastas famosas eram copiadas e coladas, muitas vezes sem nem mesmo terem as imagens originais da historinha, ou com partes removidas ou acrescentadas, bem ao estilo de lenda urbana, como o misterioso videogame Polybius, o misterioso disquete do jogo Pale Moon ou a “verdadeira” história de Caverna do Dragão (todos com pouco ou nenhum fundo de verdade), e entretiam os usuários, que faziam piadas ou acrescentavam histórias secundárias contando mais aventuras com o Smile Dog ou outro personagem aleatório. Conteúdos autorais, como histórias de terror, não eram consideradas creepypastas, pois, ao contrário das mesmas, essas histórias tinham sua origem sempre atrelada ao seu criador, ao contrário das creepypastas, que muitas vezes nem sequer tinham um criador bem definido, como o Slender Man, que teve inúmeras pessoas trabalhando na história ao longo dos anos até o ponto em que temos hoje, então, mesmo que alguém conteste a autoria de uma creepypasta, isso fará pouca ou nenhuma diferença para a obra como um todo. A acessibilidade dessas creepypastas ainda aumentou graças a outras duas ferramentas famosas, o Blogger e o Wordpress. Infelizmente, essa era não teve muitos adeptos no Brasil.
As creepypastas sempre foram traduzidas no Brasil, então muitos tinham acesso à creepypastas da gringa (inclusive uma das mais famosas sendo o Slender Man), mas o acesso à internet entre os anos de 2005 e 2014, os anos dourados das creepypastas, era muito baixo. Isso, somado ao fato da maioria dos leitores sendo crianças, fazia com que as creepypastas apenas crescessem em volume de traduções, e não em textos originais adaptados à nossa realidade e cotidiano (afinal, ninguém queria ler “a história do episódio perdido de Galinha Pintadinha” ou “o lado negro do Bom Dia e Cia”), e mesmo quando eram produzidas essas creepypastas possuíam qualidade essencialmente duvidosa.
Outra coisa atrapalhou muito o crescimento das creepypastas no Brasil, que foi a equiparação de publicações de pessoas aleatórias da internet à propaganda negativa. Muitas creepypastas que ficaram famosas lá fora falam sobre produtos de grandes empresas, como Sonic, Coca-Cola, Windows, os parques da Disney, o Link (de Legend of Zelda) e até os jogos do Super Mario, porém aqui no Brasil a história era diferente, e comentários mais sensíveis na internet associando uma empresa como o grupo Band a uma entidade demoníaca poderia ser visto como propaganda difamatória contra a mesma, o que gerava o risco de processos judiciais. Isso misturado ao fato da grande massa nem ter ideia de como se cria um blog e apenas consumir conteúdo de forma passiva desincentivava completamente a produção de creepypastas novas, e, como não existia compras via internet em terras tupiniquins e ninguém vive de amor, os blogs de creepypastas, por darem pouco ou nenhum dinheiro, não tinham destaque.
Depois de 2014, as creepypastas começaram a decair nos outros países, e isso fez com que um gênero que já não possuía grandes adeptos no Brasil acabasse minguando até quase morrer. Alguns blogs, como o Creepypasta Brasil, tentaram manter o gênero ainda vivo no país, mas é difícil concorrer contra ARGs como as Backrooms e os SCPs, e ainda mais difícil concorrer contra o YouTube em uma época onde as pessoas deixaram de ler blogs, principalmente os com escrita mais “fora do padrão”, que é o caso das creepypastas.
O resultado de todas essas mudanças ocorrendo rápido demais na internet, misturadas à perseguição de qualquer conteúdo minimamente duvidoso contra a elite política e empresarial e contra as (poucas) empresas de entretenimento do país foi praticamente uma proibição velada da associação da maioria das empresas ao horror e ao suspense (já que qualquer associação a coisas negativas faria essas pessoas serem processadas, ou associadas à fake news), e isso gerou ao cenário que temos hoje, onde existe pouco ou nenhum conteúdo de creepypastas na internet.
Além disso, as polêmicas envolvendo o youtuber HulkBR envolvendo conteúdo apelativo para crianças, roubo de canais e diversos golpes de pirâmides e roubos acabou por trazer reputação negativa ao conteúdo de creepypastas (por sua associação à famosa creepypasta “Sonic.exe”), o que ainda “queimou o filme” com pessoas que conheciam pouco ou nada sobre o conteúdo.
A conclusão final é que, pelo menos no Brasil, virou um conteúdo de nicho, assim como vídeos de sobrevivencialismo e sites anarcocapitalistas. Claro que hoje ainda existem autores e youtubers que ficaram famosos com histórias autorais semelhantes a creepypastas, como David Herick, e youtubers que ficaram famosos narrando creepypastas e histórias de terror, como Sigma Terror, mas nada chega nem próximo da dimensão e da forma que as creepypastas eram antes, como histórias de terror de acampamento virtuais, passados de pessoa para pessoa, apenas pelo mais puro entretenimento, e com pouco ou nenhum interesse comercial.
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